Seguindo a proposta de cuidar da cidade de forma integral, promovendo o desenvolvimento ao mesmo tempo em que cuida das pessoas, a Prefeitura de Montes Claros deu início a um novo projeto para incentivar catadores de materiais recicláveis e carroceiros que não tiveram acesso à escola ou pararam de estudar a voltarem às aulas e concluírem a Educação Básica.
Na noite dessa quarta-feira, 10, foi realizada a aula inaugural do projeto, com participação de catadores do EcoGalpão - Cooperativa de Catadores do Santos Reis, na Escola Municipal Jair de Oliveira, no bairro Jardim Eldorado.
De acordo com o vice-prefeito de Montes Claros, Guilherme Guimarães, a proposta inicial é alfabetizar os catadores e carroceiros das cooperativas e associações que integram o projeto “Recicla aos Montes”. “Para isso, as secretarias municipais de Educação e de Serviços Urbanos se uniram numa força-tarefa para mapear a demanda e organizar uma programação especialmente voltada para esse público, para facilitar a participação e garantir a alfabetização dos profissionais que ainda não têm o Ensino Fundamental”, explicou.
De acordo com Vanusa Ribeiro Xavier, coordenadora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sistema Municipal de Ensino, a aula inaugural marca uma nova etapa na erradicação do analfabetismo no Município. “Fizemos um levantamento e vimos que muitos profissionais já têm até o Ensino Médio, porém muitos outros não tiveram essa oportunidade. Então, nesse primeiro momento, nossa expectativa é que pelo menos 150 catadores e carroceiros se matriculem no curso. Como esse projeto também atende os familiares de primeiro grau, esse público pode ser ainda maior”, explica.
O curso será oferecido, inicialmente, na escola Jair de Oliveira, podendo se estender a outras unidades, conforme a demanda. As aulas serão realizadas três vezes por semana, das 17h15 às 20h.
A secretária municipal de Educação, Rejane Veloso, explica que toda a programação foi formatada especificamente para esse público: “a escola está estruturada e reservou o horário noturno para receber esses alunos de forma exclusiva. As aulas serão ministradas por uma professora alfabetizadora com experiência na educação de jovens e adultos. A carga horária e o material didático são específicos, e tudo foi preparado com muito carinho para acolher e motivar a permanência dos alunos no curso”.
Segundo a secretária, além dos conteúdos curriculares, o projeto contempla os aspectos sociais, e os alunos serão acolhidos e acompanhados por psicólogos e assistentes sociais. “Os alunos também receberão alimentação de excelente qualidade, preparada pela própria escola, além de transporte escolar gratuito”, completa.
VOLTA ÀS AULAS
Mariana e Adriana moram no Residencial Vitória II e chegaram cedo para a aula. “Nunca estudei. Não sei nem escrever meu próprio nome. Estou muito feliz com essa oportunidade”, conta Adriana.
Já Mariana lembra que parou de estudar ainda criança. Aos 45 anos, mãe de três filhos, ela diz que voltar as aulas é algo novo e surpreendente. “Não sou alfabetizada e surgiu essa oportunidade. Estou muito feliz com isso. Vou incentivar minhas colegas a virem também, para uma apoiar a outra”, planeja.
As duas alunas são catadoras associadas à Cooperativa EcoGalpão do Santos Reis, administrada por Sidney Alves Coutinho. “Hoje é um dia histórico para nós. O EcoGalpão está mobilizando e incentivando os catadores para que eles participem do projeto. Ao adquirir mais conhecimento, eles terão mais facilidade em conduzir seus trabalhos e até almejar outros trabalhos maiores. Parabenizamos a prefeitura de Montes Claros que não mediu esforços para que esse projeto acontecesse e esse sonho se realizasse”, reconhece.
A diretora Sandra Maria Reis diz que a escola Jair de Oliveira ansiava por reativar as aulas para jovens e adultos. “Era um sonho retomar as aulas noturnas e estamos muito felizes que a escola tenha sido contemplada para receber essa primeira turma do projeto. São muitas pessoas que precisam retomar os estudos, e temos uma escola bem estruturada, com todo o suporte necessário. É realmente uma iniciativa muito importante, tanto para a escola quanto para a comunidade” avalia.
A professora Marlene de Fátima Ferreira diz que ser regente da turma representa uma oportunidade de compartilhar o que aprendeu com alunos muito especiais. “Trabalhar na EJA é como se eu devolvesse para Deus um pouco do que Ele me deu, porque eu também sou fruto da EJA. Fui alfabetizada aos 11 anos de idade e nem por isso eu desanimei, porque eu tinha o sonho de ser professora. Estudei com muito sacrifício, fiz duas faculdades - Normal Superior e Letras-Português, ambas na Unimontes -, e hoje me sinto feliz de poder retribuir um pouco do que aprendi aos meus alunos. Sei das dificuldades, do sacrifício e da vontade deles de querer ler e não saber. Quando a gente não lê é como se não enxergasse. E quando a gente aprende a ler, é como se tirasse uma venda dos olhos. Eu sei o quanto esse curso vai ser importante para a vida deles. E na minha vida também”, concluiu.
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